sábado, 19 de junho de 2010

"Já fui estrela tempo suficiente"

Slash deixou para trás os vícios, mas continua agarrado ao rock. Guitarrista revela as suas motivações, antes de tocar no Porto, depois de amanhã, e em Lisboa, na quarta.

O jovem que no final dos anos 80 surpreendeu o mundo do rock com solos carregados de sentimento e riffs contagiantes está diferente. Fisicamente, está praticamente igual, mas fartou-se da vida de estrela. Largou os vícios, casou e é pai de dois filhos. Depois de sair dos Guns N' Roses e de uns anos a tocar para outros decidiu "vingar-se" e chamou uma dúzia de "pesos pesados" para cantar e tocar no seu primeiro disco a solo, "Slash", lançado há dois meses. Antes dos dois concertos nos coliseus do Porto (depois de amanhã) e Lisboa (no dia seguinte), o JN entrevistou uma das últimas lendas vivas do rock.
Qual foi a motivação para fazer um disco verdadeiramente a solo?Depois de tantos trabalhos como músico contratado, queria fazer um disco só meu. Quando tocas no disco de outros, há sempre um certo desprendimento. É divertido, mas, quando a sessão termina, não tens mais nada a ver com aquilo. És uma barriga de aluguer.
E que tal foi assumir tudo sozinho? Foi libertador. Sempre estive num contexto de banda, onde as decisões se baseavam num mandato do grupo. Por isso, foi muito bom poder tomar todas as decisões e não ter de responder perante ninguém. Por outro lado, como não tinha ninguém a quem pedir ajuda, tive de trabalhar muito, a completar canções e a unir partes.
Foi fácil trabalhar com tantos vocalistas e com estilos tão diferentes? A nível criativo, foi muito confortável. Ao compor, já pensava em que a voz se adequava melhor e qual o cantor ideal. Portanto, quando mostrei as músicas, todos se sentiram bastante confortáveis.
Alguém recusou o convite? Não. Tive algumas dificuldades por causa da calendarização e das editoras e houve uma situação contratual específica que me impediu de ter um cantor. Não vou dizer qual porque depois vão fazer um enorme alarido. Mas, no final, tive todos aqueles que quis.
Como está a correr a digressão? Está a ser óptima. A reacção ao material novo tem sido fenomenal. Só íamos tocar quatro músicas novas, mas houve tantas solicitações que já tocamos mais. Também tocamos algumas coisas de Guns N' Roses - toda a gente adora -, mas também dos Velvet Revolver e Slash's Snakepit.
Deixou tabaco, álcool e drogas. Como é andar na estrada limpo? Larguei os copos e as drogas há quase quatro anos, portanto, já estou mais ou menos habituado. Tinha-me deixado levar até ao ponto em que estás tão viciado que és apenas um fardo para ti e para os outros. Aí, deixa de ser divertido. Portanto, não sinto falta nenhuma. Já os cigarros são uma coisa um bocado mais chata. Deixei há um ano e ainda continuo a usar todo o tipo de substitutos.
E sente-se melhor? Toco o dobro do que antes porque passo menos tempo no bar e a minha vida sexual é absolutamente incrível.
Sem vícios, casado e com dois filhos. Acabou a vida de estrela rock? A vida de estrela rock é de certa forma um cliché. Sei que, de certa forma, personifico um certo estilo de vida, mas apenas preenchia os espaços da vida de modo a torná-la interessante. Fi-lo durante tempo suficiente. Agora, as pessoas com quem me dou mantêm isso vivo por mim.
Depois de tantos anos, como é que se sente quando ainda lhe perguntam pelos Guns N' Roses? Torna-se redundante. É gratificante porque, 14 anos depois, este fascínio que subsiste é uma prova do êxito do grupo. Mas, quando me perguntam sobre os planos para o futuro dos Guns… Nunca houve planos. Não havia há 14 anos, não havia ontem e, muito provavelmente, não haverá amanhã. Têm de parar de salivar sobre uma reunião.
O que achou de "Chinese Democracy" [álbum dos Guns N' Roses lançado no ano passado]? É um bom disco do Axl. Ele já tinha tentado introduzir toda aquela parafernália de sintetizadores, mas nós lutamos contra isso duramente. É exactamente o disco que eu esperava que ele fizesse. Acho que foi um erro chamar-lhe Guns N' Roses. Teria muito mais êxito se lhe chamasse só Axl. Mas, OK, é um bom disco.
E quanto aos Velvet Revolver? No último ano, estive muito concentrado neste disco, mas, depois de acabar a digressão, em Janeiro ou Fevereiro, vamo-nos encontrar para escolher um novo vocalista. Estou ansioso para fazer um disco dos Velvet com outra pessoa que não o Scott Weiland, para, finalmente, fazermos um disco de hard rock pesado.

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